Uma brilhante faísca de genialidade ou uma apagada centelha de ineptude.
Qual escolherias?
Certamente a primeira, sem quaisquer reservas.
Põe-te na pele de um jovem de 25 anos assolado pelo pútrido fantasma da calvície precoce. Nasceste no Machico com sonhos afogados pelo Oceano Atlântico - o horizonte lá longe, no Continente. Um pote de ouro no final de um Arco-Íris interminável. Atravessaste a ciclópica mancha de água a nado, numa demonstração de inabalável força interior e assinalável potência braçal. Afinal, era esse o teu Destino. A tua salvação.
À Beira-Mar deste à costa, com as Chaves do sucesso na tua trémula mão direita. A fechadura mostrou-se inviolável. Guardaste a chave no bolso da esperança, mas não regressaste a nado ao Machico. Nem por um segundo duvidaste de ti mesmo. Procuraste a felicidade no destino comum a outros tantos compatriotas - Chipre, a nova Paris dos anos 70.
Porém, a salamandra do sucesso continuava a escorregar-te por entre os dedos - fria, húmida, fugidia. Esconde-se em qualquer falha do Muro das Lamentações, por mais pequena que esta possa ser. Porém tu, pleno de tikvá na alma, não te deixaste atemorizar. A tua crença carrega-te às costas, e sabes que um dia serás tu mesmo a carregar às costas a crença de milhares - quiçá milhões.
Por isso não desistes.
Regressas ao Continente Luso, com Chipre no retrovisor do cargueiro. Sem salpicos de dúvida ou arrependimento atravessas o crispado mar do insucesso.
Avistas de novo Beira-Mar.
"Desta será de vez!" apregoas de peito cheio.
Forças a entrada no palco maior do teu métier.
As coisas não correm pelo melhor, mas tu lutas, e lutas. Não desistirás nunca, porque o sucesso é uma inevitabilidade.
Até que chega o momento pelo qual sempre esperaste:
Aqui, agora, neste segundo, o Mundo abre-se perante ti.
Deus abre os portões da Imortalidade e estende-te um presente com ambas as mãos. De laçarote enfeitado.
É aquilo com que sempre sonhaste.
Noventa e quatro minutos e trinta segundos ficaram para trás - pela frente está o invicto Campeão Nacional, player de elite nas lides Internacionais. Condecorado, medalhado, poderoso, orgulhoso, forte e arrogante.
Mas naquela ocasião, inesperadamente, o Campeão tropeça.
Cambaleia.
Prepara-se para a queda, posiciona-se para a desgraça.
Só precisa de um pequeno - ínfimo, quase ridículo - empurrão.
É Golias à mercê de David. Naquele segundo apenas, naquele instante, tão inesperado quanto chocante.
E só tu o podes empurrar.
Sempre soubeste que o momento iria chegar um dia.
Os olhos do Mundo estão colados em ti. Carregas às costas a crença de milhões, contra a esperança de outros tantos.
O Universo dividido em dois. Desta vez não há Bem, nem Mal. Só tu David, e um Golias prestes a imortalizar-te como Herói - ou Mártir.
Posicionas-te, olhas o destino nos olhos e vês a sua face medonha desafiando-te num esgar malévolo.
É agora.
Atemorizas-te ou brilhas como uma supernova que escolheu deixar toda a sua vida para trás, dedicando-a por inteiro a um instante apenas - para cintilar como nunca ninguém antes cintilara?
O momento é teu, AGARRA-O!!
...
... e falhaste.
Falhaste de novo. Mas desta vez, meu amigo, o Mundo estava a ver.
Ajoelhas-te no relvado carregado de chuva, compondo com dolorosa perfeição uma trágica tela de decepção.
Mãos trémulas cobrem-te o rosto de vergonha.
A chuva, indiferente ao cenário, banha-te a prematura calvície com lágrimas cósmicas de uma estória repetida.
Deus deu-te a hipótese de escrever um triunfante epílogo para a tua própria existência.
Ajoelhas-te no relvado carregado de chuva, compondo com dolorosa perfeição uma trágica tela de decepção.
Mãos trémulas cobrem-te o rosto de vergonha.
A chuva, indiferente ao cenário, banha-te a prematura calvície com lágrimas cósmicas de uma estória repetida.
Deus deu-te a hipótese de escrever um triunfante epílogo para a tua própria existência.
Passou-te a pena celestial para a mão, mas foste apenas capaz de escrever um triste requiem.
Porém, a vida continua.
Ou será que não?
4 comentários:
Foi um falhanço do tamanho do mundo, mas o João Silva também teve um muito bom nesta jornada
Pode dizer-se que este maxiqueiro é um nabo.E o que é que se diz ao Cardozo?
Machico e os famigerados Martins.Livra!
que Martins??
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